Brasil tem média de 14 mil suicídios por ano, 38 por dia.
O suicídio é uma triste realidade que atinge o mundo todo e causa danos à sociedade. É uma questão de saúde pública. Já passou da hora para que medidas efetivas sejam adotadas para a redução de casos no Brasil.
Muitas são as suas causas. O desconhecimento, a desinformação, os diagnósticos e tratamentos incorretos, além do fato de ainda haver muito preconceito em relação ao problema, estão entre os fatores responsáveis pelo aumento do número de casos no Brasil e em outros países da América, apesar de a tendência ser inversa em outras regiões.
O suicídio em números
Dados de um estudo feito pela OMS em 2019 mostram que:
mais de 700 mil pessoas morrem atualmente por suicídio no mundo;
é a quarta causa maior causa de óbitos entre jovens de 15 a 29 anos;
mais homens morrem devido ao suicídio do que mulheres (12,6 por cada 100 mil homens em comparação com 5,4 por cada 100 mil mulheres);
14 mil suicídios por ano é a média brasileira (cerca de 38 por dia);
em 2019, somente 38 países tinham uma estratégia nacional de prevenção ao suicídio.
Diante deste quadro, a Associação Brasileira de Psiquiatria, ressalta a necessidade e a importância da orientação, da conscientização e da prevenção e informa que no mês de setembro, os esforços e as ações preventivas da ABP são sempre reforçados.

Um olhar para quem cuida
Se lidar com o tema já é difícil, olhar a questão sob ponto de vista de algumas categorias profissionais torna-se algo inadiável. Estudo da American Psychiatric Association (Associação Americana de Psiquiatria – APA) divulgado em 2018, mostrou que um suicídio é consumado ao dia entre os médicos norte-americanos, tendo a depressão como a principal causa. O documento aponta que é a mais alta taxa entre todas as profissões.
A pandemia veio escancarar essa realidade. A Fiocruz Mato Grosso do Sul e Fiocruz Brasília realizaram um estudo, no início de 2022, mostrando que:.
65% dos profissionais de saúde apresentaram sintomas de transtorno de estresse;
61,6% de ansiedade;
e 61,5% de depressão.
O universo da pesquisa foi de 800 trabalhadores das áreas de enfermagem, odontologia, medicina, farmácia e fisioterapia.
Ressalta-se que, a maioria destas pessoas dificilmente procura ajuda ao descobrir os primeiros sinais da doença. ( Ao final deste texto há informações sobre onde buscar ajuda)
“Acolhimento é o que sedimenta o solo fragmentado pela dor.”
Karina Fukumitsu
Psicóloga, suicidologista, Gestalt-terapeuta e psicopedagoga
Da mesma maneira que pessoas têm dificuldade em compartilhar os sentimentos, hesitam em externar suas necessidades.
Em dezembro de 2021, o Colo de Cumaru promoveu uma atividade de escuta e acolhimento para profissionais de uma UTI neonatal e da emergência de um hospital em Santa Catarina. Não foi surpresa encontrar dor e sofrimento entre aquelas pessoas. A impotência, a solidão, o medo de não saber como acolher os pacientes e familiares e a dificuldade de aceitar a morte surgiram como resultado da escuta realizada.
Necessidade de serem cuidados; de escuta; de terem um espaço no ambiente de trabalho para poderem relaxar (o espaço de descompressão) e até mesmo a necessidade de maior integração entre as várias equipes daquela unidade surgiram como resultado da partilha.
Fica evidente, a urgência do desenvolvimento de iniciativas e políticas públicas de cuidado para profissionais de saúde e para todos aqueles que cuidam de pessoas em sofrimento no Brasil.
Identificando primeiros sinais de uma crise
É importante estar atento ao que se que passa ao redor com as pessoas próximas e buscar identificar os primeiros sinais de que algo não está bem.
Segundo especialistas, não há uma receita para detectar com segurança uma crise, mas alguns sinais podem servir de alerta:
isolamento;
pensamentos recorrentes sobre a morte;
falta de interesse por atividades antes apreciadas;
expressão de ideias, ou intenções suicidas;
pensamentos sobre falta de esperança
mudanças bruscas de conduta diária como tomar banho, escovar os dentes, entre outros.
Setembro Amarelo
Desde 2014, a Sociedade Brasileira de Psiquiatria – ABP juntamente com o Conselho Federal de Medicina – CFM, organizam o Setembro Amarelo, considerado a maior campanha para a redução do estigma do mundo, segundo a ABP. Neste ano, seu lema é “A vida é a melhor escolha”.

Um caminho a seguir
A informação é uma ferramenta essencial no processo de esclarecimento para quem sofre ou não de algum transtorno e para quebrar a barreira que ainda impede que o suicídio seja tratado de frente e deixe de ser um tabu.
Apoio e acolhimento são fundamentais em qualquer momento. Estar disponível, oferecer uma escuta ativa sem julgamentos, demonstrar empatia e agir, buscando tratamento, fazem toda a diferença.
Compreende-se, assim, que boa parte dos suicídios poderia ser evitada se as pessoas tivessem acesso a informações de qualidade, tratamentos adequados e se sentissem acolhidas e confortáveis para promover conversas sinceras sobre o assunto.
Juliana Toscano
Aquela que dá colo
Jornalista
PaliAtivista
Sentinela – Guardiã de Fim de Vida
Encontre informação e apoio para prevenir o suicídio.
Emergências
Bombeiros
Os bombeiros são altamente treinados para qualquer tipo de resgate.
Fone: 193
SAMU
Serviço móvel do SUS responsável por atender urgência e emergência em diversas situações.
Fone: 192
Polícia
Pode ajudar e socorrer em casos de risco físico, surtos, ameaça de suicídio ou de agredir a outras pessoas.
Fone: 190
O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.
Informações para prevenção ao suicídio e orientações para atendimentos
Site da Associação Brasileira de Psiquiatria, do Conselho Federal de Medicina e da Associação Psiquiátrica de América Latina com informações sobre a campanha e profissionais de saúde que prestam atendimento especializado.
Informação e apoio que pessoas possam superar suas dificuldades e transtornos emocionais, equilibrando a saúde mental e espiritual.
Site com informações sobre serviços públicos de saúde mental disponíveis em todo território nacional, além de serviços de acolhimento e atendimento gratuitos ou voluntários realizados por ONGs, instituições filantrópicas, clínicas escola, entre outros.
Instituto especialização em prevenção e pósvenção do suicídio.
Desenvolve iniciativas e difunde informações que proporcionam conhecimento sobre temas sensíveis e com os quais a maioria de nós tem dificuldade para lidar. O envelhecimento, o adoecimento, a finitude, o suicídio e o luto são alguns deles.
Livros

Nem covarde, Nem herói – Amor e recomeço diante de uma perda por suicídio
Luciana Roca, psicóloga e especialista em suicidologia
Gulliver Editora

Suicídio e Luto: Histórias de Filhos Sobreviventes
Karina Okajima Fukumitsu, psicóloga, suicidologista,
Gestalt-terapeuta e psicopedagoga
Digital Publish & Print Editora

Sobreviventes Enlutados Por Suicídio
Karina Okajima Fukumitsu, psicóloga, suicidologista,
Gestalt-terapeuta e psicopedagoga
Summus Editorial

O demônio do meio-dia
Andrew Salomon, consultor especial de saúde mental LGBT em Yale e professor de psicologia clínica no Columbia University Medical Cente (EUA)
Companhia das Letras
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