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  • Colo Cumaru

É muito comum a associação entre sagrado e religião. A definição de sagrado se amplia diante o olhar dos profissionais paliativistas. É um tema abrangente, relevante e especial.


“Cuidar é o ato mais sagrado que podemos oferecer a nós mesmos e a cada pessoa que nos confia a sua saúde, a sua esperança, a dignidade”.


A frase é da psicóloga clínica e paliativista, Flávia Vieira, e resume sua fala a profissionais de saúde ou profissionais do cuidado – como ela se refere a todas as pessoas envolvidas com o cuidar, mesmo que não sejam profissionais de saúde. Nessa visão inclusiva recepcionistas, motoristas de ambulância, auxiliares de limpeza, porteiros são também considerados agentes de saúde. Muitas vezes, essas pessoas são invisibilizadas nos seus locais de trabalho. O cuidar assume outras perspectivas quando entendemos que estão todos no mesmo barco.


Flávia participou, por meio de uma gravação, do 9º encontro do PEA – Pausa, Escuta e Autocuidado, no último dia 26 de setembro. A atividade é realizada mensalmente para toda a equipe do Hospital Hélio Anjos Ortiz de Curitibanos, em Santa Catarina (@hhao_curitibanos). A presença nesses encontros é voluntária o que, para o Colo de Cumaru, é uma forma de cada pessoa honrar as suas necessidades e também o seu sagrado.

Flor de lot
Crédito: Bruno (Banco de dados Wix)

O sagrado são as coisas que dão realização e sentido para cada um. Refletir, zelar e reverenciá-lo colabora para que não nos afastemos da nossa essência. “Quando nos aproximamos do que é sagrado para cada um de nós, fica possível nos aproximarmos daquilo que é sagrado para as pessoas de quem a gente cuida”, afirmou a psicóloga.


Pessoas que lidam com a saúde de outras pessoas, mesmo não estando na linha de frente, são cuidadoras e guardiãs do que é sagrado para o ser humano.


A fala da psicóloga ela é tão importante que merece ser escutada por todas as pessoas, que trabalhem ou não com a saúde.


No vídeo abaixo, encontra-se a íntegra da fala de Flávia Vieira. Encontrar um tempo escutar e refletir sobre a mensagem deixada por ela é um ato de autocuidado. Cada pessoa que pausar por 10 minutinhos para assistir ao vídeo estará cuidando um pouco do seu sagrado também.



 

Flávia Vieira é Psicóloga e psicoterapeuta; Especialista em gestão do potencial humano nas organizações; Especialista em Cuidados Paliativos; e Formada em Psicologia Hospitalar. É cofundadora do projeto voluntário Abrigo Humano.




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  • Colo Cumaru

A empatia é uma qualidade que deve ser cultivada, mas seu excesso pode levar a um quadro de exaustão física e emocional.


A empatia é uma qualidade que deve ser cultivada, mas seu excesso pode levar a um quadro de exaustão física e emocional. A linha que separa a empatia do burnout empático – ou fadiga empática – é muito sutil. Só percebemos que ultrapassamos o nosso limite quando pifamos.


Ser empático é uma característica que nos humaniza. Por muito tempo acreditei que empatia seria a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa. Agora vejo de forma diferente. Cada pessoa é única e é impossível sentir o que o outro sente. Gosto da seguinte definição de empatia: “sentir a expressão da dor ou o prazer do outro como ele o sente e perceber suas causas como ele a percebe, porém sem nunca perder de vista que se trata da dor ou do prazer do outro.”(1)


A síndrome de burnout atinge profissionais das mais diversas áreas, mas a sua face mais visível é a dos que lidam diretamente com a saúde. Quem não se lembra do que ocorreu com eles durante o período da pandemia? Aquelas pessoas conviveram com o drama de pacientes e familiares diariamente e por um longo período. Impotência, medo, angústia foram sentimentos frequentes diante de tanta pressão e que teve efeito na saúde física e mental de muitos deles.


Estudo divulgado em 2022 pela Fiocruz do Matogrosso do Sul e da Fiocruz Brasília feito com 800 trabalhadores das áreas de enfermagem, odontologia, medicina, farmácia e fisioterapia deixa clara a dura realidade desses profissionais. Dos entrevistados, 65% apresentaram sintomas de transtorno de estresse; 61,6% de ansiedade e 61,5% de depressão.


Um universo a ser cuidado


Acredito que os resultados seriam semelhantes se o estudo abrangesse todos os profissionais envolvidos direta ou indiretamente com o cuidar. Já pensou que em instituições hospitalares os faxineiros, porteiros, copeiros e mesmo quem atua na administração também têm contato com o sofrimento humano? Familiares e cuidadores, profissionais ou não, sofrem da mesma forma.


Fiquei surpresa ao descobrir outra categoria de alta carga de estresse e que não é vista: os médico-veterinários. Interessante, não é? Segundo o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo, eles também são suscetíveis ao burnout empático “por lidarem com a morte cinco vezes mais que os demais profissionais da saúde, devido à expectativa de vida de um animal”.


A fadiga empática pode atingir pessoas que desenvolvem trabalhos voluntários também. Faço parte de um projeto que atende pessoas com doenças graves nas favelas da Rocinha e do Vidigal. Nele, contamos com a participação de uma equipe multiprofissional da área da saúde, mas também com moradores que apoiam diretamente àqueles atendidos pelo projeto – seus vizinhos. Vejo a real preocupação dos coordenadores com a saúde física e mental dos voluntários. Todos os meses há um encontro para que os cuidadores sejam cuidados. Massagem, relaxamento e meditação são algumas das atividades oferecidas.


Quem cuida precisa ser cuidado. Profissionais da área da saúde, familiares de pessoas doentes, veterinários, voluntários e cuidadores estão sujeitos ao burnout empático. Estão todos no mesmo barco.


A cura está na compaixão


A doutora Andrea, uma das fundadoras do Colo de Cumaru, escreveu - neste blog - sobre seu encontro com a fadiga empática e sobre como buscou ajuda para lidar com ela. O alívio do sofrimento chegou pela compaixão e pela autocompaixão.


A compaixão vai além da empatia. Identificamos o sofrimento do outro, queremos aliviá-lo e partimos para a ação. Para Thupten Jinpa, ex-monge, tradutor do Dalai Lama, estudioso e difusor do budismo tibetano “a compaixão é o que conecta o sentimento de empatia a atos de bondade, generosidade e outras expressões de nossas tendências altruístas"(2)


 

“Se a compaixão não inclui a si mesmo, então ela é incompleta.”

Jack Kornfield*

 

A compaixão nos ensina que não precisamos nos identificar com a dor do outro. Ela nos obriga a olhar para nós mesmo. Se não temos compaixão com a gente, como poderemos ter com as outras pessoas?


Podemos trabalhar e praticar a compaixão e a autocompaixão para que se transforme em uma força ativa em nossa vida. Ao trazer a compaixão para perto, encontramos caminhos para lidar com o burnout empático. Cabe a cada um de nós “colocar a mão na massa”.


Juliana Toscano

Aquela que dá colo

Jornalista

Sentinela - Guardiã de Fim de vida

 

(1)Experiência empática: da neurociência à espiritualidade, Márcia Alves TassinariI; Wagner Teixeira DurangeII, Revista da Abordagem Gestáltica, vol. 20, n.1, 2014.

(2)Um coração sem medo, Thupten Jinpa, Sextante, 2016.

*Jack Kornfield é um psicólogo norte-americano e um dos responsáveis por introduzir o “mindfulness” no Ocidente.

 



Livros de Thupten Jinpa (em português e em inglês)

Você pode consultar no site da Amazon


Sugestões de leitura


A semente da compaixão: lições da vida e ensinamentos de Sua Santidade, o Dalai Lama

Dalai Lama

32 páginas

Editora Caminho Suave - 2020



A revolução do altruísmo

Matthieu Ricard

715 páginas

Editora Palas Athena - 2015

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  • Colo Cumaru

A preocupação com a necessidade de cuidar de quem cuida é assunto urgente. Cuidar do cuidador (independentemente se profissional ou não) como uma ação preventiva é urgente.



Boneco de madeira cuidando de outro boneco de maneira
Crédito: Marco Bianchetti (Unsplash)


Desde que nascemos estamos sendo cuidados. E, por mais independentes que sejamos ao longo da vida, chegará o momento em que precisaremos de alguém ao nosso lado para nos fornecer assistência. Se você é profissional da saúde, trabalha cuidando de pessoas doentes ou está assistindo algum familiar adoecido, esse texto veio ao seu encontro em um bom momento.


Seja por escolha ou pela inevitabilidade da vida, imagino que, muitas vezes, o trabalho de cuidar seja bastante exaustivo. Falo isso porque, mesmo diante todos esses anos atuando como médica, há momentos que sim, me sinto cansada: e está tudo bem. Não sou uma espécie de super-heroína inabalável e incapaz de sentir os baques da profissão que escolhi. Nem você. Quem cuida sabe que o conhecimento técnico não é o suficiente. Não basta saber trocar uma fralda, preparar um alimento adequado ou fazer um curativo: estamos lidando com pessoas, suas histórias e seus sentimentos.


Por trás de um diagnóstico há toda uma vida a ser contada e memórias a serem honradas. Sendo assim, é inevitável não nos envolvermos emocionalmente com quem está sob nossos cuidados. Não existe a possibilidade de chegarmos em casa e simplesmente desligarmos o botãozinho que nos conecta com aquela pessoa. Torcemos pela melhora, por dias melhores. Mas, infelizmente, há muitos casos difíceis em que não há nada que possamos fazer a não ser CUIDAR da maneira mais íntegra e presente possível.


Há situações em que estamos tão entrelaçados com as pessoas que cuidamos que deixamos de lado uma parte de nós. Aquele espaço de nós que gosta de caminhar no final do dia, que se alimenta de forma saudável, que lê bons livros antes de deitar-se. Estamos tão obstinados a cuidar que a pessoa mais importante de nossas vidas fica em segundo plano: nós mesmos. Isso é bem comum de acontecer. Mas é preciso se prevenir para evitar o esgotamento do corpo e da alma.


Dedique-se ao seu trabalho com toda a amorosidade que existe dentro de você, mas lembre das coisas que gosta e que te fazem feliz. Olhe com mais carinho para dentro de si. Quando estamos alinhados com o que nos faz bem, somos capazes de expressarmos o melhor de nós e de nos dedicarmos ao cuidado com o corpo e a mente saudáveis. Como eu disse, não há um botão de liga e desliga. Mas precisamos avaliar o quanto essas histórias estão impactando nossa saúde emocional.


Por vezes se faz necessário um suporte psicológico, por exemplo. E não há problema nenhum nisso: isso não é sinal de fraqueza, muito pelo contrário. É sinal que você cuida de você. Cuidamos do outro por amor, por necessidade, por respeito e por compaixão. E é isso que merecemos também.


ACQA*

 

Ana Claudia Quintana Arantes é médica, escritora, professora e palestrante em temas sobre envelhecimento e morte – e a vida que preenche o espaço desses momentos humanos.

 

Reprodução de artigo veiculado na newsletter de ACQA em 25 de agosto de 2023.




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