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  • Colo Cumaru

Minha experiência me ensinou sobre o autocuidado e a cuidar melhor do outro.


Olá, meu nome é Tábata e vou contar uma parte da história que me fez ir em busca de ferramentas para me transformar em quem sou hoje. É uma parte da minha vida que eu nunca contei assim abertamente para ninguém e farei isso hoje em respeito a você e à proposta do Colo de Cumaru, buscando me colocar nesse lugar de acolhimento e talvez poder auxiliar você a se dar colo também. Esta história vale para quem já passou ou ainda irá passar por um momento de finitude de algum ente querido ou até de si mesmo.


Dona Marli Miranda, sentada à mesa em sua cozinha, tomando café com bolo
Dona Marli Ribas (Arquivo pessoal)

Minha avó, Dona Marli Miranda Castro Ribas, é uma pessoa que amei e amo muito, minha referência de mulher, mãe, avó, esposa. Nascida em 16 de janeiro de 1938, criada para se casar e ter filhos, me deu todos os bons exemplos de como ser feliz, apesar de qualquer adversidade. Muito vaidosa e cuidadosa como a própria saúde, aos 71 anos, com a saúde ainda perfeita, tratou de um câncer de endométrio. Em 2009, após cinco anos de remissão, descobrimos metástase em várias partes do corpo, que em menos de 1 ano, a levou a morte.



Nos primeiros anos da doença, minha vó enfrentou lindamente o tratamento agressivo e todos os efeitos colaterais que ele lhe trouxe, mas quando a doença se apresentou novamente, eu, meu pai e meu avô decidimos não contar para ela. Foi, então, que a falta de cuidado com dela consigo começou a afetar o cuidado comigo e o cuidado de estar cuidando de alguém. Vou lhe explicar o porquê. Minha avó doente sempre morou com meu avô. Ele não sabia cuidar de si. Era ela quem sempre fazia tudo para ele, inclusive calçar suas meias. Assim, ela também não cuidava de si.


Não para o autocuidado Decidi então que eu cuidaria de ambos até o último dia de vida dela. Mudei-me para a casa deles mesmo sendo casada e tendo dois filhos, uma decisão em comum acordo pela necessidade do momento. Coloquei-me à disposição deles. Naquela época eu achava que tudo estava bem, mas hoje, entendo que, inconscientemente, eu me coloquei dentro de uma relação de mentira. Como sustentar aquela relação desrespeitosa foi pesada para mim! Por que achei que a minha avó, aquela mulher incrível, não conseguiria enfrentar a própria condição?



Avó e neta posam para foto em casa. Foto: arquivo pessoal
Tábata e Dona Marli: amor e companheirismo

Ao esconder dela a verdade, querendo protegê-la de mais dor, pensava na nossa relação - sempre baseada no amor, no respeito e na cumplicidade – que estava sendo transformada pelas mentiras. “Vó, você não tem nada. Isso vai passar”, eu dizia. Quando ela chorava e perguntava o que estava acontecendo com o seu pulmão, eu me calava, pensando na resposta que não podia dar. Eu queria e não conseguia nem ajudar, amarrada pela mentira que precisava sustentar. Também retiramos dela as decisões sobre a direção do seu tratamento, de intervenções a serem adotadas e medicamentos tomados. Hoje, entendo que não pensamos em perguntar o que ela queria para si.


Nós a colocamos num lugar de incapacidade. Aquilo me doía porque eu assumi as decisões por ela e aquele não era o meu lugar. Eu deveria estar ali dando afeto, conforto, amor, colo, afago. Sofri com isso. Ao mesmo tempo, não cuidei de mim, sequer olhei para isso na época, segui o fluxo, sem saber para aonde me levaria. Ofereci um cuidado que eu imaginei ser o melhor para ela, mas que não gostaria que fosse o mesmo, se eu estivesse na mesma condição. Nem consegui ter empatia com minha vó, pois estava julgando o que seria melhor para ela. Não respeitamos sua autonomia, sua lucidez, sua história de vida e a imensa capacidade de cuidar de si e de cuidar de todos da nossa família e amigos. Não cuidei dela, de mim, do meu lugar dentro da relação, que poderia ter sido a mais sublime enquanto ela viveu aqui neste plano.

Quando nos colocamos à disposição de cuidar de alguém com um diagnóstico de uma doença que ameace a continuidade da vida, nos colocamos no lugar de cuidar de pessoas que estão vulneráveis, às vezes estão frágeis, mas não são. A doença não pode ter o poder de mudar as virtudes da pessoa e nós não podemos permitir que isso aconteça. Devemos ser guardiões da autonomia, da dignidade e da qualidade de vida dessas pessoas e da nossa quando chegar a hora. Olhar para isso é também reconhecer nosso papel enquanto cuidadores, os nossos limites, as dificuldades e as facilidades. Precisamos ser sinceros conosco mesmos para podermos cuidar do outro de forma efetiva.


Informação para melhor cuidar


A falta de cuidado comigo naquele momento, me levou a muitos anos de culpa e inquietação, um sentimento de que alguma coisa estava fora da ordem, de que aquilo poderia ter sido melhor. Então, comecei a estudar, aprender sobre a morte, a finitude e as doenças. Hoje sei que se eu tivesse tido uma conversa amiga e sincera com minha vó, eu teria cuidado do meu sentimento também, do tanto que eu poderia suportar, do tanto que eu poderia carregar ou não.


Acredito que a gente só faz o que pode, só mostra o que é e só dá o que tem. Hoje, eu tenho mais e darei mais. Na época, foi o que o pude dar e fiz o meu melhor com todo amor, me reconciliei com minha avó e comigo mesma, aprendi como cuidar de pessoas. Sou hoje uma Sentinela - Guardiã do Fim da Vida. Esta história me trouxe até aqui. Olho para ela com muito amor e respeito. Entendi que até como cuidar de pessoas, minha avó querida me ensinou.

Com este relato, espero poder auxiliar a muitos que passaram ou passam por situação semelhante e coloco-me à disposição para conversar, ouvir e dar colo.


Tábata Santetti

Sentinela - Guardiã de fim de vida

Estudou várias técnicas de como cuidar de pessoas, mas quando está cuidando de alguém é só uma alma humana cuidando de outra




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  • Colo Cumaru

Aromaterapia pode acolher dores emocionais relacionadas a medos em geral


Como os profissionais da linha de frente da saúde, os cuidadores - profissionais ou não- podem se beneficiar da aromaterapia para cuidar de questões associadas ao medo, a não saber como falar com seus pacientes, às dificuldades em lidar com a finitude?


A cofundadora do Colo de Cumaru e aromaterapeuta, Elizangela Rubia, traz uma orientação especial para estes casos: o uso do “roll-on”, uma das formas de administrar os óleos essenciais.






Por ser prático e não ocupar espaço, é possível levá-lo para qualquer lugar.


Vidro roll-on, com galhos de tomilho. Uso em aromaterapia.
Foto: cgdsro (Pixaby)

Como fazer:


. 1 aplicador de vidro “roll-on” (10 ml)

. Óleo vegetal (semente de uva, por exemplo)

. 1 gota de óleo essencial de tomilho

. 1 gota de óleo essencial de lavanda

. 1 gota de óleo essencial de laranja doce


Coloque todos os ingredientes no frasco e estará pronto para uso.




Tem alguma dúvida sobre o processo de feitura, sobre como utilizar? Envie-nos uma mensagem.





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  • Colo Cumaru

Atualizado: 9 de set. de 2022

Brasil tem média de 14 mil suicídios por ano, 38 por dia.


O suicídio é uma triste realidade que atinge o mundo todo e causa danos à sociedade. É uma questão de saúde pública. Já passou da hora para que medidas efetivas sejam adotadas para a redução de casos no Brasil.


Muitas são as suas causas. O desconhecimento, a desinformação, os diagnósticos e tratamentos incorretos, além do fato de ainda haver muito preconceito em relação ao problema, estão entre os fatores responsáveis pelo aumento do número de casos no Brasil e em outros países da América, apesar de a tendência ser inversa em outras regiões.


O suicídio em números


Dados de um estudo feito pela OMS em 2019 mostram que:

  • mais de 700 mil pessoas morrem atualmente por suicídio no mundo;

  • é a quarta causa maior causa de óbitos entre jovens de 15 a 29 anos;

  • mais homens morrem devido ao suicídio do que mulheres (12,6 por cada 100 mil homens em comparação com 5,4 por cada 100 mil mulheres);

  • 14 mil suicídios por ano é a média brasileira (cerca de 38 por dia);

  • em 2019, somente 38 países tinham uma estratégia nacional de prevenção ao suicídio.


Diante deste quadro, a Associação Brasileira de Psiquiatria, ressalta a necessidade e a importância da orientação, da conscientização e da prevenção e informa que no mês de setembro, os esforços e as ações preventivas da ABP são sempre reforçados.




Por do sol amarelado, sol ao fundo e uma pequena flor à frente do sol
Foto: Oleg Sotnikov (Unsplash)


Um olhar para quem cuida


Se lidar com o tema já é difícil, olhar a questão sob ponto de vista de algumas categorias profissionais torna-se algo inadiável. Estudo da American Psychiatric Association (Associação Americana de Psiquiatria – APA) divulgado em 2018, mostrou que um suicídio é consumado ao dia entre os médicos norte-americanos, tendo a depressão como a principal causa. O documento aponta que é a mais alta taxa entre todas as profissões.


A pandemia veio escancarar essa realidade. A Fiocruz Mato Grosso do Sul e Fiocruz Brasília realizaram um estudo, no início de 2022, mostrando que:.

  • 65% dos profissionais de saúde apresentaram sintomas de transtorno de estresse;

  • 61,6% de ansiedade;

  • e 61,5% de depressão.

O universo da pesquisa foi de 800 trabalhadores das áreas de enfermagem, odontologia, medicina, farmácia e fisioterapia.


Ressalta-se que, a maioria destas pessoas dificilmente procura ajuda ao descobrir os primeiros sinais da doença. ( Ao final deste texto há informações sobre onde buscar ajuda)


 

“Acolhimento é o que sedimenta o solo fragmentado pela dor.”

Karina Fukumitsu

Psicóloga, suicidologista, Gestalt-terapeuta e psicopedagoga


 

Da mesma maneira que pessoas têm dificuldade em compartilhar os sentimentos, hesitam em externar suas necessidades.


Em dezembro de 2021, o Colo de Cumaru promoveu uma atividade de escuta e acolhimento para profissionais de uma UTI neonatal e da emergência de um hospital em Santa Catarina. Não foi surpresa encontrar dor e sofrimento entre aquelas pessoas. A impotência, a solidão, o medo de não saber como acolher os pacientes e familiares e a dificuldade de aceitar a morte surgiram como resultado da escuta realizada.


Necessidade de serem cuidados; de escuta; de terem um espaço no ambiente de trabalho para poderem relaxar (o espaço de descompressão) e até mesmo a necessidade de maior integração entre as várias equipes daquela unidade surgiram como resultado da partilha.


Fica evidente, a urgência do desenvolvimento de iniciativas e políticas públicas de cuidado para profissionais de saúde e para todos aqueles que cuidam de pessoas em sofrimento no Brasil.


Identificando primeiros sinais de uma crise


É importante estar atento ao que se que passa ao redor com as pessoas próximas e buscar identificar os primeiros sinais de que algo não está bem.


Segundo especialistas, não há uma receita para detectar com segurança uma crise, mas alguns sinais podem servir de alerta:

  • isolamento;

  • pensamentos recorrentes sobre a morte;

  • falta de interesse por atividades antes apreciadas;

  • expressão de ideias, ou intenções suicidas;

  • pensamentos sobre falta de esperança

  • mudanças bruscas de conduta diária como tomar banho, escovar os dentes, entre outros.

Setembro Amarelo


Desde 2014, a Sociedade Brasileira de Psiquiatria – ABP juntamente com o Conselho Federal de Medicina – CFM, organizam o Setembro Amarelo, considerado a maior campanha para a redução do estigma do mundo, segundo a ABP. Neste ano, seu lema é “A vida é a melhor escolha”.


Quadro amarelo, letras pretas e explicação sobre o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio
10 de setembro - Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio

Um caminho a seguir


A informação é uma ferramenta essencial no processo de esclarecimento para quem sofre ou não de algum transtorno e para quebrar a barreira que ainda impede que o suicídio seja tratado de frente e deixe de ser um tabu.


Apoio e acolhimento são fundamentais em qualquer momento. Estar disponível, oferecer uma escuta ativa sem julgamentos, demonstrar empatia e agir, buscando tratamento, fazem toda a diferença.


Compreende-se, assim, que boa parte dos suicídios poderia ser evitada se as pessoas tivessem acesso a informações de qualidade, tratamentos adequados e se sentissem acolhidas e confortáveis para promover conversas sinceras sobre o assunto.


Juliana Toscano

Aquela que dá colo

Jornalista

PaliAtivista

Sentinela – Guardiã de Fim de Vida







Encontre informação e apoio para prevenir o suicídio.


Emergências


Bombeiros

Os bombeiros são altamente treinados para qualquer tipo de resgate.

Fone: 193


SAMU

Serviço móvel do SUS responsável por atender urgência e emergência em diversas situações.

Fone: 192


Polícia

Pode ajudar e socorrer em casos de risco físico, surtos, ameaça de suicídio ou de agredir a outras pessoas.

Fone: 190


O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.


Informações para prevenção ao suicídio e orientações para atendimentos


Site da Associação Brasileira de Psiquiatria, do Conselho Federal de Medicina e da Associação Psiquiátrica de América Latina com informações sobre a campanha e profissionais de saúde que prestam atendimento especializado.


Informação e apoio que pessoas possam superar suas dificuldades e transtornos emocionais, equilibrando a saúde mental e espiritual.


Site com informações sobre serviços públicos de saúde mental disponíveis em todo território nacional, além de serviços de acolhimento e atendimento gratuitos ou voluntários realizados por ONGs, instituições filantrópicas, clínicas escola, entre outros.


Instituto especialização em prevenção e pósvenção do suicídio.


Desenvolve iniciativas e difunde informações que proporcionam conhecimento sobre temas sensíveis e com os quais a maioria de nós tem dificuldade para lidar. O envelhecimento, o adoecimento, a finitude, o suicídio e o luto são alguns deles.


Livros


Nem covarde, Nem herói – Amor e recomeço diante de uma perda por suicídio

Luciana Roca, psicóloga e especialista em suicidologia

Gulliver Editora



Suicídio e Luto: Histórias de Filhos Sobreviventes

Karina Okajima Fukumitsu, psicóloga, suicidologista,

Gestalt-terapeuta e psicopedagoga

Digital Publish & Print Editora



Sobreviventes Enlutados Por Suicídio

Karina Okajima Fukumitsu, psicóloga, suicidologista,

Gestalt-terapeuta e psicopedagoga

Summus Editorial



O demônio do meio-dia

Andrew Salomon, consultor especial de saúde mental LGBT em Yale e professor de psicologia clínica no Columbia University Medical Cente (EUA)

Companhia das Letras

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