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  • Colo Cumaru

Falar sobre autocuidado e sofrimento espiritual de profissionais que lidam com o cuidar de pessoas tem se tornado uma questão cada vez mais necessária.


Mãos que recebem cuidados
Crédito: Amanda Pontes (Broto Fotografia)

Junho foi um mês especial para o Colo de Cumaru. Completamos dois anos de existência e realizamos uma atividade presencial em Curitibanos (SC) que contou com a presença das três fundadoras – o que é um motivo de celebração, pois cada uma de nós reside em um Estado diferente.


Nos dias 9 e 10 do mês passado , promovemos encontros para profissionais do nosso parceiro Hospital Hélio Anjos Ortiz – HHAO, participantes do “PEA - Pausa, Escuta e Autocuidado”, programa que busca a promoção da cultura do autocuidado para profissionais que lidam com o cuidar de pessoas em qualquer ambiente. Também aproveitamos a oportunidade para conhecer o hospital e nos reunir com o seu diretor, Marcelo Pasolin, e com as enfermeiras Patrícia Ribeiro e Karin Cristina Denardi.


Na noite do dia 9, organizamos uma conversa para colaboradores sobre autocuidado e sofrimento espiritual de profissionais da saúde. Na ocasião, apresentamos um vídeo especialmente gravado para a reunião por Roberto Miguel*, capelão hospitalar, criador do podcast “Irmã Morte” e coordenador do curso de capelania da Casa do Cuidar.


Dar colo aos profissionais das áreas da saúde, administrativa, de limpeza e conservação e da cozinha foi objetivo dos encontros promovidos ao longo do sábado, 10 de junho. Organizamos 5 sessões focadas no cuidado daquelas pessoas, que incluíram automassagem, relaxamento com sons (sound healing*) e aromaterapia.


Profissionais da área da saúde em encontro sobre autocuidado
Crédito: divulgação

Valorizando o autocuidado


É mais que necessário falar sobre autocuidado e sofrimento espiritual para profissionais especializados do cuidado, bem como pessoas envolvidas com o ato de cuidar, seja na linha de frente ou nas áreas de apoio. Quase sempre, o autocuidado é negligenciado, ainda que muitos entendam a sua importância.


Roberto Miguel tem muito a falar sobre o tema. Seu trabalho consiste em oferecer apoio e cuidado espiritual e emocional a pacientes, familiares e colaboradores em um hospital oncológico nos Estados Unidos e o autocuidado está sempre na pauta de suas intervenções. Além disso, o tema está sempre presente em suas reflexões, afinal, ele também precisa cuidar de si.


Na mensagem apresentada para colaboradores do Hospital Hélio Anjos Ortiz, o capelão ressaltou a necessidade de mudança de mentalidade em relação ao cuidado pessoal. Lembrando que em uma cultura que valoriza o dar do que o receber, ressaltou que algumas reflexões são fundamentais.


Para Roberto Miguel, cada pessoa precisa ter a consciência da própria importância. “Somos únicos, obra de arte que nunca haverá de se repetir novamente (sic). Foi feita uma vez apenas, merece ser muito bem cuidada”, afirmou. Ele salientou, ainda, que, algumas vezes, cada um redescobre o seu próprio valor por meio do olhar de pessoas que as amam.


A consciência da vulnerabilidade do ser humano é também fundamental. Isso coloca todos em contato com a própria necessidade de descanso, de ter uma boa alimentação, de ter saúde o que possibilitará desfrutar da vida plenamente.


Homem sendo tratado com aromaterapia
Crédito: Amanda Pontes (Broto Fotografia)

Um ponto salientado pelo capelão foi que a responsabilidade de cuidar de si é individual, mas é preciso lembrar que as instituições ligadas à saúde também são responsáveis pelo cuidado de pessoas que colaboram para elas. Jornada de trabalho, remuneração adequada e oferta de benefícios foram citadas como algumas ações de cuidado.


Sentido, significado e conexão


A definição consensual de espiritualidade no mundo da saúde foi usada como base para o entendimento do significado de dor espiritual. Cunhada pela médica Cristina Puchalski*, professora de medicina e ciências da saúde, fundadora e diretora do Instituto George Washington para a Espiritualidade e Saúde (GWish) na Universidade George Washington (Estados Unidos) é definida como “a dimensão do ser humano que nos remete à busca de sentido e significado e a forma como nos conectamos conosco, com os outros, com o momento presente, com a natureza e com o que é sagrado para cada um de nós”, segundo o capelão.


Para Roberto Miguel, pensar em espiritualidade e sofrimento espiritual é refletir sobre as questões de sentido em nas relações que cada pessoa tem. “Quando as relações estão em harmonia, a tendência é que experimentemos um bem-estar espiritual maior”, frisou.


O capelão, finalizou a gravação, fazendo um convite às pessoas presentes. Sugeriu que cada um dedique um tempo para refletir como andam as suas relações. Relações com o sentido da vida, com o que é sagrado individualmente, com a família, com o momento presente, com a natureza.


A principal mensagem que Roberto Miguel deixou foi que a espiritualidade é um dos fatores que contribui para a saúde e da qualidade de vida das pessoas. É urgente que o tema seja mais abordado entre profissionais que lidam com o cuidar em qualquer ambiente.


Juliana Toscano

Aquela que dá colo

Jornalista

Sentinela – Guardiã de Fim de Vida


 

* Sound Healing ou cura pelo som é uma terapia que combina diferentes sons de cura, música, instrumentos de cura sonora e voz para melhorar nosso bem-estar, criando uma experiência em que todas as camadas de nosso campo de energia (corpo, mente, alma, espírito) são despertadas suavemente. O foco desta terapia é estimular o relaxamento, ao mesmo tempo em que ajuda a equilibrar todo o nosso ser. Na terapia são utilizados instrumentos como tigelas tibetanas e de cristal, gongos, tambores e diapasões

 

Sobre Roberto Miguel e Cristina Puchalski


Roberto Miguel é capelão no Moffitt Cancer Center em Tampa (EUA) Teólogo (Univ. Presbiteriana Mackenzie). Mestre em Ciências da Religião (PUC/SP) e Doutor em Saúde Coletiva (UNIFESP). Criador do podcast “Irmã Morte” e coordenador do curso de Capelania da Casa do Cuidar (SP).


Cristina Puchalski é professora de medicina e ciências da saúde, fundadora e diretora do Instituto George Washington para a Espiritualidade e Saúde (GWish) na Universidade George Washington (Estados Unidos). Certificada em cuidados paliativos, é uma líder internacional no movimento para integrar a espiritualidade aos cuidados de saúde. Possui diversos livros sobre espiritualidade e saúde.





Podcast Irmã Morte

Você pode ouvir no Spotify ou no Deezer


Livros de Cristina Puchalski (em inglês)

Você pode consultar no site da Amazon

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  • Colo Cumaru

Projeto de preces diárias inaugura atividades do "Somos Gente Paliativa", primeiro "hospice" virtual do Brasil.



“Somos Gente Paliativa” é uma iniciativa idealizada pela médica, Ana Claudia Quintana Arantes, e tem como premissa ser um hospice* virtual para pacientes, familiares e profissionais do cuidado. Nesse espaço, profissionais do cuidado especializados oferecerão suporte para aliviar o sofrimento de pessoas que têm uma doença ameaçadora da vida.


Em 8 de junho passado, iniciou-se o seu primeiro projeto: a “Prece da Esperança”. Ao longo de dois meses serão conduzidas preces diárias, às 7h30 e 21h30, conduzidas, de forma voluntária, por alunos e ex-alunos do curso de Capelania da Casa do Cuidar com palavras de apoio e esperança para pacientes, familiares, profissionais do cuidado e a quem mais necessitar. É importante ressaltar que as várias tradições religiosas serão consideradas nesses momentos de oração e reflexão. Como afirmou Ana Claudia, “toda tradição religiosa tem em sua essência, na sua base, em sua base fundamental a esperança”. Para assistir ao vivo ou ter acesso às gravações, basta conectar-se ao canal do Youtube da Casa do Cuidar.


A educação será uma das frentes do “Somos Gente Paliativa”. Conteúdos relacionados ao autocuidado serão disseminados para os seus “hóspedes”, familiares e profissionais do cuidado. O hospice virtual oferecerá, ainda, suporte social, com orientações de assistentes sociais e advogados a essas pessoas.



A educação será uma das frentes do “Somos Gente Paliativa”. Conteúdos relacionados ao autocuidado serão disseminados para os seus “hóspedes”, familiares e profissionais do cuidado. O hospice virtual oferecerá, ainda, suporte social, com orientações de assistentes sociais e advogados a essas pessoas.


Sem dúvida, essa é uma iniciativa mais que bem-vinda, necessária e essencial de cuidado, e também, uma maneira de levar informações sobre os cuidados paliativos a um número maior de pessoas.


Juliana Toscano Aquela que dá colo Jornalista Sentinela – Guardiã de Fim de Vida


 

* Muito populares na América do Norte e em muitos países europeus, os hospices são espaços de acolhimento integral e humanizado, onde pessoas com diagnóstico de doença avançada e incurável são assistidas com foco em cuidados paliativos.






Clique aqui para acessar o Youtube da Casa do Cuidar.


Instagram do “Somos Gente Paliativa” – @somosgentepaliativa



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  • Colo Cumaru

O olhar do Colo de Cumaru está voltado para o cuidar de quem cuida. Como uma linha que une os tecidos de um trabalho de patchwork , o autocuidado é um assunto que costura as nossas ações.


Em recente artigo publicado em seu blog, a médica Ana Cláudia Quintana Arantes, fala sobre a importância de cuidar de si para cuidar do outro.


Gostamos tanto do texto, que o reproduzimos abaixo.


Esperamos que, assim como nós, você desfrute da sua leitura.


Colo de Cumaru

 

Homem sentado à beira do mar meditando
Foto: arquivo Wix

Antes de cuidar do outro, é preciso cuidar de si.

(texto publicado no blog em 16/05/2023 )


Segundo as definições do dicionário, a palavra AUTOCUIDADO refere-se a um conjunto de ações que cada um de nós exerce para nos cuidarmos, a fim de atingirmos melhor bem-estar e qualidade de vida. E isso vai muito além da saúde física: também abrange aspectos psicológicos, familiares, sociais e espirituais.


A maneira que cada um encontra de alcançá-lo é muito particular: para isso, deve-se levar em conta objetivos, desejos, prazeres e interesses. Nosso autocuidado deve estar alinhado no que faz sentido para nós. Pode ser uma caminhada no fim do dia, um passeio com seu animalzinho de estimação, a prática de meditação ou qualquer outro detalhe que te arranque um sorriso no rosto.


Prezar pelo nosso autocuidado é um ato de coragem.


A questão do autocuidado deve ter um lugar especial na vida de profissionais de saúde e de pessoas que cuidam de quem está doente. Por vezes, estamos tão imersos naquele contexto tão difícil, que acabamos deixando as nossas demandas de lado.


Só que para oferecermos o melhor de nós, precisamos estar bem com o nosso eu interior. Há situações em que é inevitável sentir-se triste, ansioso (a), com medo ou frustrado (a), afinal, estamos lidando com a vida das pessoas, suas histórias, diagnósticos, tratamentos e valores.


Por que há dias que nem tudo sai como o esperado, não é? Mas precisamos minimizar os danos e isso começa dentro de nós. Faça uma lista de quem você ama, e medite estes votos em cada um dos nomes listados:


. Que esse ser se livre de todas as causas de sofrimento (isso possibilita que essa pessoa se livre de você, caso você o faça sofrer)

. Que esse ser encontre todas as causas da felicidade (isso possibilita que essa pessoa encontre melhores motivos para ser feliz que não seja estar ao seu lado)

. Que esse ser tenha lucidez instantânea

. Que esse ser se liberte de todas as estruturas de medo e culpa

. Que esse ser encontre uma forma de ser instrumento para o bem de outros seres

. Que através disso, esse ser encontre sua sustentação de Força, Amor e Luz nessa existência.


Fique dentro da Paz após meditar tudo isso. Se os seus votos forem realmente verdadeiros, todas as pessoas que realmente forem amadas por você, permanecerão sempre ao seu lado. Para sempre mesmo.


Caso o seu nome não esteja em primeiro lugar nessa lista de pessoas amadas há algo muito errado com a sua vida: ame ao próximo como a si mesmo. Capriche na letra.


É o que tenho aprendido por aqui…


ACQA.

Médica, escritora, professora e palestrante.

Formada pela USP com residência em Geriatria e Gerontologia no Hospital das Clínicas da FMUSP. Pós-graduada em Psicologia – Intervenções em Luto pelo Instituto 4 Estações

de Psicologia. Especialização em Cuidados Paliativos pelo Instituto Pallium e pela Universidade de Oxford.



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