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  • Colo Cumaru

Saúde mental, profissionais de saúde e cuidadores: uma relação delicada

Atualizado: 21 de nov. de 2022

É preciso despertar nos gestores a relevância do cuidar de quem cuida, e nos próprios profissionais a importância do autocuidado quando se fala em saúde mental.



Desenho de um perfil de uma pessoa com pedaços de papéis coloridos saindo pela cabeça.
Imagem : Canva


O ano é 2022, do século 21. Vivemos em um mundo complexo, em que as mudanças são uma constante e ocorrem cada vez de forma mais veloz. Os avanços se dão por todos os lados e impactam as pessoas em vários campos da vida.


As sociedades acompanham as transformações. Ainda lidamos, porém, com questões em que a evolução não ocorreu no mesmo ritmo. Trataremos, aqui, da saúde mental. Nossa decisão de abordar o tema está diretamente ligada ao autocuidado e ao cuidar de quem cuida.


Com frequência, abordamos a necessidade de cuidado e autocuidado por parte daqueles que estão na linha de frente da saúde, de cuidadores profissionais ou informais. Necessário ressaltar que profissionais que atuam em atividades administrativas e nos serviços gerais em hospitais, centros de saúde ou qualquer espaço onde o cuidar seja a atividade central, também devem ser considerados quando falamos em cuidado. Cuidar de quem cuida não é uma prática comum nos círculos ligados à saúde no Brasil ainda.


Falar sobre saúde mental é um tabu. O tema ainda é estigmatizado por boa parte da população mundial. Ao se calar sobre o assunto, não se discute sobre uma questão de extrema importância para o bem-estar individual e coletivo.


Ao nos negarmos a colocar o tema na mesa para o debate, estamos ignorando os impactos que a ausência do tratamento das doenças mentais causa na vida das pessoas. Tomemos como exemplo os efeitos da ansiedade e a depressão sobre nós. De acordo com a psiquiatra Gabriela Galvão, ambas “têm o poder de paralisar e acabar com a qualidade de vida de uma pessoa”.


As doenças mentais devem ser encaradas como se olha para as doenças físicas. Qualquer pessoa está sujeita a ter que lidar com uma doença mental. Os pacientes devem ser tratados sem medo ou sem serem excluídos. A busca de um profissional especializado é essencial para o correto diagnóstico e tratamento.


Dados que impressionam


Em texto publicado pelo Colo de Cumaru, intitulado “É preciso falar sobre o suicídio de forma aberta”, mencionamos um estudo da Fiocruz Mato Grosso do Sul e Fiocruz Brasília de 2022, mostrando a elevada carga de estresse a que são submetidos profissionais de saúde e os impactos na saúde física e mental dos mesmos. Os resultados da investigação, que se restringiu ao período da COVID-19, não devem diferem da realidade diária dessas pessoas.


Os dados são alarmantes e mostraram que:

  • 65% dos profissionais de saúde apresentaram sintomas de transtorno de estresse;

  • 61,6% de ansiedade;

  • 61,5% de depressão.


Olhando para além do universo da esfera da saúde, constata-se a urgência de encarar a saúde mental como prioritária. Relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado em junho passado, mostrou que, em 2019, quase um bilhão de pessoas vivia com transtorno mental no mundo. De acordo com o documento, “os transtornos mentais são a principal causa de incapacidade, causando um em cada seis anos vividos com incapacidade. Pessoas com condições graves de saúde mental morrem em média 10 a 20 anos mais cedo do que a população em geral, principalmente devido a doenças físicas evitáveis”.


Outro levantamento, a pesquisa anual Global Health Service Monitor (Monitor de Serviço de Saúde Global), do Ipsos, reconhecida empresa de pesquisa de mercado, realizada em 34 países entre 22 de julho e 5 de agosto deste ano, demonstrou que, em nível mundial, a saúde mental foi a segunda maior preocupação das pessoas quando se fala em saúde, superando o câncer pela primeira vez.


Considerando o Brasil, constatou-se que para quase 50% (cinquenta por cento) dos brasileiros, os transtornos mentais passaram a ser uma das principais preocupações de saúde. Se compararmos o Brasil com outros países, a apreensão com a saúde mental atinge os níveis mais altos.


Preocupar com as questões mentais não significa agir em busca de cuidados. Em termos globais, o relatório do Ipsos apontou que no último ano:

  • somente 18% dos entrevistados informaram ter tomado algum medicamento para ajudar a tratar de questões como estresse ou depressão;

  • 16% buscaram um conselheiro, psicólogo ou psiquiatra para falar sobre o tema;

  • 14% conversaram com o provedor de cuidados de saúde primário, como um médico de família, sobre sua saúde mental;

  • 14% licenciaram-se do trabalho/escola para lidar com um problema pessoal de saúde mental.

Seguindo em frente


São muitos desgastes físicos, psíquicos e emocionais que surgem quando existe a responsabilidade de lidar com a vida humana em situações que oferecem riscos e perigos. É preciso despertar nos gestores a relevância do cuidar de quem cuida e naqueles que estão na linha de frente da saúde, a importância do autocuidado. Uma lupa deve ser colocada no tema saúde mental.

Há muito a fazer nessa jornada do cuidar. A informação é uma grande aliada nesse sentido. A internet está aí para facilitar a disseminação das informações. Existem diversas fontes confiáveis de informação que esclarecem sobre o tema.


Entender que as doenças mentais podem afetar qualquer pessoa em qualquer época da vida – independentemente de idade, sexo, classe social ou profissão, que devem ser tratadas como qualquer doença física, é crucial para que sejam superadas as barreiras que ainda criam o estigma em torno do tema.


O autocuidado, porém, pode começar desde já. Olhar para os ambientes de trabalho, social e familiar, perceber o que ocorre e quais são os impactos que afetam o dia a dia de cada um, é o primeiro passo. Também é fundamental não ter vergonha de reconhecer o sofrimento e a necessidade de pedir ajuda. Autoempatia e autocompaixão são vitais para o cuidar de si e dar o passo seguinte: a busca pelo tratamento.


Para cuidar de quem cuida é necessário reconhecer que, pelas tarefas exercidas, essas pessoas também são propensas a desenvolver doenças mentais. O suporte a elas passa pelo olhar atento, pela escuta ativa, pelo não-julgamento e pela compaixão. É importante ajudá-las a entender que necessitam de ajuda e a buscar o apoio correto.


Quando se fala em saúde mental, o importante é não se acomodar. Aos primeiros sintomas que possam levar a suspeitar de que algo não anda bem física, psíquica ou emocionalmente, é necessário procurar ajuda.


Juliana Toscano

Aquela que dá colo

Jornalista

PaliAtivista

Sentinela – Guardiã de Fim de Vida






Onde buscar ajuda


Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)

As unidades que prestam serviços de saúde de caráter aberto e comunitário, atendem, prioritariamente, pessoas com sofrimento ou transtorno mental, tanto situações de crise quanto nos processos de reabilitação psicossocial. Pessoas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas também são assistidas.

Caso o município não possuir nenhum CAPS, o atendimento de saúde mental é feito pela Atenção Básica, principal porta de entrada para o SUS, por meio das Unidades Básicas de Saúde ou Postos de Saúde.


Site com informações sobre serviços públicos de saúde mental disponíveis em todo território nacional, além de serviços de acolhimento e atendimento gratuitos ou voluntários realizados por ONGs, instituições filantrópicas, clínicas escola, entre outros.


Onde se informar


Informação e apoio que pessoas possam superar suas dificuldades e transtornos emocionais, equilibrando a saúde mental e espiritual.


A saúde mental é o tema central da sétima temporada do Finitude Podcast. São 6 episódios que abordam questões como saber lidar com a depressão, como o transtorno de ansiedade e com o burnout.

Os episódios estão disponíveis nos tocadores de podcast e também no Youtube do Finitude.

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