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  • Colo Cumaru
  • 24 de ago. de 2022
  • 2 min de leitura

Atualizado: 8 de set. de 2022

Com quase 60 milhões de visualizações, a palestra de Brené Brown continua estimulando pessoas a olhar para a sua vulnerabilidade.


Pode ser que você, assim como eu, esteja entre as milhões de pessoas que assistiram à TEDx* de Brené Brown uma ou mais vezes (vídeo ao final do texto). Ou talvez, ainda não tenha tido a chance de assistí-la. Estando em qualquer um dos grupos, sugiro que veja ou reveja a pequena palestra da assistente social, professora e pesquisadora da Universidade de Houston (Estados Unidos) e entenda o poder de reconhecer-se imperfeito.


A TEDx de Brené Brow, gravada em 2010, é uma das mais vistas até hoje. A palestra, com 20 minutos de duração, também pode ser vista na Netflix, encontrada no menu de documentários com o título de “A Call to courage” (um chamado à coragem, na tradução livre).


Por outro lado, descobriu, também, que havia pessoas para as quais a que a palavra vergonha estava longe de constar em seus vocabulários. Ao contrário, para elas, mérito era a palavra que fazia sentido. Assim, Brené Brown se pôs a investigar o que separava o primeiro do segundo grupo e entendeu as pessoas com sentido de mérito são aquelas que “têm um grande sentido de amor e integração e acreditam que são dignas desse amor e integração”.


Indo mais à fundo na busca de encontrar o padrão comum a essas pessoas com profundo sentimento de mérito, a pesquisadora finalmente compreendeu que “o que elas tinham em comum era um sentido de coragem... [...] Elas tinham, simplesmente, a coragem de ser imperfeitas”.


Compaixão e autocuidado


O trabalho de Brené Brown, avança mostrando que essas pessoas corajosas, imperfeitas, antes de tudo, tinham autocompaixão e eram gentis consigo mesmas primeiro e, só depois com os outros. Em outras palavras, é o nosso cuidar de quem cuida.


É pedir colo, quando necessário. É respirar por um minuto quando as coisas se complicam. É dizer: “não dou conta”. Ou talvez, parar o que se está fazendo, deixar o ambiente e tomar um copo de água. Ou mesmo olhar para o seu colega ou para um membro da família e, com o olhar dizer: “posso lhe ajudar?”. É isso e muito mais.


Árvore resiste em meio a uma ventania.
Foto: Khamkeo Vilaysing


É colocar-se vulnerável. A vulnerabilidade não é algo agradável, confortável, mas é poderosa e nos permite ir ao encontro da nossa humanidade. Isso nos transforma. Transforma o mundo ao nosso redor.


Juliana Toscano

Aquela que dá colo

Jornalista

PaliAtivista

Sentinela – Guardiã de Fim de Vida






Livros de Brené Brown editados em português


1. A coragem de ser você mesmo

2. A arte da imperfeição: Abandone a pessoa que você acha que deve ser e seja você mesmo

3. Eu achava que isso só acontecia comigo: Como combater a cultura da vergonha e recuperar o poder e a coragem

4. A coragem para liderar: Trabalho duro, conversas difíceis, corações plenos

5. Mais forte do que nunca: Caia. Levante-se. Tente outra vez.

6. A coragem de ser imperfeito


Vídeo da TEDx com legendas em português.




 
 
 
  • Colo Cumaru
  • 17 de ago. de 2022
  • 3 min de leitura

Relato de uma profissional da área de saúde que cuida de pessoas em sofrimento que precisou ser cuidada em seu momento de dor.


Começo esse relato, agradecendo a todos que me acolheram, que me enxergaram, que viram minhas dores, muitas vezes, sem saber quais eram. Um coração estraçalhado é capaz de sentir um acolhimento verdadeiro.


Há momentos na nossa vida em que parece que tudo simplesmente ruiu . Momentos em que estamos atravessando uma floresta em chamas, pisando em cacos de vidro. E não é porque eu, médica, que cuido de pessoas – assim como muitos outros colegas de profissão – estou livre de sofrer dores incontroláveis, cujo tamanho, muitas vezes, não há palavras para dimensionar. Acrescento um detalhe. Nesses momentos, muitos de nós paralisamos. Não somos treinados para também pedir ajuda. Achamos que vamos dar conta sozinhos.


Ledo engano. Precisamos de colo também. Eu precisei de colo.


Nesses momentos, ter amigos, família amorosa - no meu caso uma mãe presente, fez toda diferença.


Aceitar que precisa ser cuidado


Será não existe alguém capaz nos acolher em um momento de dor? Será, mesmo, que ninguém nos vê, em algum momento? Ou será que quando estamos sofrendo, ficamos tão fechados em nós mesmos que não olhamos para o lado? Quando estamos sofrendo, ficamos incapazes de falar das nossas dores? Estas e outras são perguntas que me permeiam e me fazem refletir sobre o quanto todos nós, cuidadores, precisamos nos enxergar como seres que também precisam de ajuda. Sozinhos em momentos de muita dor, se não temos apoio, tudo fica mais difícil.


Em seu livro “Os Cinco Convites”*, Frank Ostaseski, descreve a vida sofrida de uma moradora de rua, a primeira paciente do hospice onde ele trabalha. Ele relata a estória dela de perdão, sobre sua morte em paz, depois de perdoar o irmão . Ao ler essa história, foi inevitável comparar com o meu momento. Perdoar é aceitar as coisas como são e como aconteceram. É assim podermos seguir leves. O que quer que tenha acontecido não deve virar um tabu para nós. Acredito que tudo que se passou inevitável e se aproveitamos a oportunidade para aprender com os fatos, será ótimo. Se não aprendemos nada, esse é o nosso problema.



Passáro em ninho, sobre galho com folhas verdes
Foto: Maria Fernanda Gonzalez (Unsplash)

Aprendi nesse período que ser cuidada, deixar que me carregassem no colo, aliviou dores, aqueceu meu coração. Senti energias positivas chegando até mim. Senti as vibrações das orações. Senti-me fortalecida em todos os Colos de Cumaru que ganhei, mesmo que não fossem dados com palavras ou com conhecimento de causa. Senti-me acolhida e garanto que foi muito importante me sentir confortada.


A cada dia, entendo mais que quem cuida precisa ser visto, escutado e acolhido. Ressalto, novamente, algo muito importante. Muitas vezes, precisamos também pedir ajuda. Para isso, precisamos acolher e validar nossas dores.


Novamente, quero registrar minha gratidão a todos os Colos de Cumaru oferecidos, mesmo que não soubessem que o Colo significa para nós aqui nessa missão. Para nós, o Colo de Cumaru são os olhares acolhedores, os silêncios generosos, os toques afetuosos, os sabores e aromas afetivos, os minutos de descanso que possibilitam o cuidado tão necessário a quem cuida de quem cuida e tudo aquilo que permite o cuidar e o eleva a um outro patamar.


Termino, dizendo que continuo aprendendo para melhor servir.


Andrea Nancy Pontes Gomes

Aquela que dá colo

Médica ginecologista e obstetra. Homeopata. Doula da morte.

Formação de Doula com AmorTser. Mortal.


*Recomendo a leitura de Os Cinco Convites. O livro é sensacional.

 
 
 
  • Colo Cumaru
  • 10 de ago. de 2022
  • 4 min de leitura

O luto é uma resposta psicológica comum e normal após uma morte ou perda.


O luto é um momento esperado e inevitável de lidar e ajustar-se à perda. É um processo multidimensional, que envolve aspectos emocionais, físicos, sociais e cognitivos que podem mudar ao longo do tempo.


Solidão. Duas cadeiras de praia na areia, ao fundo o mar.
Foto: Engin Akyurt (Unsplash)

Colin Murray Parkes, psiquiatra britânico, compreende luto como uma importante transição psicossocial decorrente das transformações no mundo interno que, necessariamente, ocorrem a partir da vivência de um processo de perda. A partir dessa transformação, o enlutado passa a assumir novos papéis e uma nova visão de si e do mundo externo, buscando novas soluções para os problemas da vida cotidiana.


É muito comum associar o luto somente à morte de pessoas, mas ele pode ocorrer em diversas situações. O fim de uma relação amorosa, a morte de um animal de estimação, a amputação de um membro, a demissão de emprego, por exemplo. Crianças também vivenciam o luto como no caso da separação dos pais, da mudança de escola ou de cidade, quando há uma mudança significativa em suas vidas. Assim, o luto NÃO é uma patologia, é a nossa resposta natural à perda de algo ou alguém, um processo natural de adaptação.


Cada pessoa passa pelo luto à sua maneira, não há maneira certa ou errada. O luto não é linear. Ao passar pelo processo do luto, é importante que a pessoa reconheça os seus sentimentos e emoções, que não os tente esconder ou controlar. Disfarçar ou evitar o que se sente pode gerar problemas não somente no campo emocional, mas também no físico.


São diferentes os tipos de luto. Compreender como cada um deles se manifesta é essencial para o integrar, para saber como cuidar de si e também acolher os outros.


Alguns dos tipos de luto:


  • Prolongado;

  • Antecipatório;

  • Secundário;

  • Cumulativo;

  • Ambíguo;

  • Complicado;

  • Normal;

  • Não reconhecido;

  • Traumático;

  • Coletivo;

  • Atrasado;

  • Exagerado;

  • Mascarado.


Como exemplo, cito a definição de Renata Seren e Rafael Tilio para o luto antecipatório. “Diante do diagnóstico de uma doença grave, tanto paciente quanto familiares se deparam com a ameaça de continuidade da vida, trazendo impactos de diversos aspectos a cada um dos personagens envolvidos.


As alterações podem ser percebidas no âmbito físico, social, amoroso, financeiro, profissional, espiritual e emocional, vivido por cada sujeito de forma única.


No adoecimento o indivíduo necessitará se reorganizar e a ressignificação e compreensão destas mudanças se darão por meio de um processo de luto antecipatório, que pode iniciar no diagnóstico e/ou durante o curso da doença.”


As quatro fazes do luto


Existe um modelo para entendermos o processo de luto conhecido como as quatro fases do luto, proposto pelos psiquiatras britânicos John Bowlby e Colin Murray Parkes. São elas:


1. Desorientação, torpor, negação e isolamento.

Momento de grande confusão. O enlutado fica perdido diante da dor que desestrutura, não “sabe” o que sentir ou responder. Está muito presente neste processo a negação. Negação e isolamento funcionam como uma estratégia psíquica e social de proteção.


2.Anseio e busca da figura perdida.

Bowby diz que existe uma explicação biológica para essa fase: a procura, o choro são mecanismos adaptativos de tentativa de recuperação da vinculação da figura perdida. Esta fase é caracterizada por uma variedade de sentimentos, incluindo tristeza, raiva, ansiedade e confusão. A pessoa enlutada sente saudade da pessoa falecida e deseja que ela volte para preencher o vazio criado por sua morte.


3.Desorganização, desesperança, dor profunda e desespero.

Essa fase é marcada pela aceitação inicial da realidade da perda. A pessoa enlutada pode experimentar sentimentos de apatia, raiva, desespero, desesperança e tristeza. pessoal muitas vezes quer se retirar e se desconectar dos outros e das atividades que gosta regularmente.


4.Restruturação (reorganização, aceitação, restabelecimento).

Na fase final, a pessoa enlutada começa a retornar a um novo estado de "normalidade". Sentimentos intensos como tristeza, raiva e desespero começam a diminuir à medida que as memórias mais positivas da pessoa falecida aumentam. A pessoa pode experimentar níveis regulares de energia e o peso vai se estabilizar (pode também flutuar durante outras fases).


O processo de luto de cada um é diferente, as pessoas podem experimentar todas as fases nesta ordem, em uma ordem diferente, ou mesmo podem nunca as experimentar. É possível, por exemplo, sentir que se atingiu a fase 4 e depois voltar para a fase 2 novamente. Não existe um prazo certo ou errado para o luto.



Cuide de si e do outro


Por fim, gostaria de lembrar alguns cuidados importantes sobre como se relacionar com pessoas enlutadas e como cuidar de você em caso de vivências de luto.


  • Valide a sua dor e a dor do outro.

  • O luto leva tempo! Não force as pessoas a se sentirem BEM porque você não sabe o que fazer quando as pessoas estão tristes! Também não se force a ficar bem porque as pessoas esperam isso de você. Ficar triste é NORMAL!

  • Esteja disponível para ouvir e acolher. Evite conselhos. Nesta hora, o que importa é a sua presença, a empatia.

  • Se você não sabe o que dizer ou fazer, seja honesto e diga. Diga às pessoas que você está lá para elas caso precisem de você >> isso é uma GRANDE ajuda.

  • O luto é um processo. Seja paciente e compassivo consigo mesmo e com as outras pessoas. Você não está sozinho.

Elizangela Rubia

Aquela que dá colo

Aromaterapeuta e Educadora na área de Aromaterapia. Aplica Massagem Sonora (Soundhealing).

Formada em Medicina Tibetana no Centro de Medicina Tibetana de Milão. PaliAtivista

Sentinela - Guardiã de Fim de Vida, Tanatóloga em Formação


Leia mais sobre a importância das conversas sinceras sobre a morte e o morrer em nossa sociedade.


 
 
 

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